Entenda quando é possível responsabilizar o sócio por dívidas da empresa por meio da desconsideração da personalidade jurídica, conforme o Código Civil e a jurisprudência atual.
Entenda quando é possível responsabilizar o sócio por dívidas da empresa por meio da desconsideração da personalidade jurídica, conforme o Código Civil e a jurisprudência atual.
A personalidade jurídica é um dos pilares do direito empresarial moderno. Ao constituir uma sociedade, os sócios se beneficiam da separação patrimonial entre seus bens pessoais e os da empresa. Contudo, essa proteção não é absoluta. Em determinadas situações, a lei permite "levantar o véu societário" e responsabilizar diretamente os sócios pelas obrigações da empresa – trata-se da desconsideração da personalidade jurídica.
Mas afinal, quando isso pode ocorrer? Quais são os requisitos legais para que um sócio seja responsabilizado por dívidas da empresa? É o que vamos esclarecer neste artigo.
A desconsideração da personalidade jurídica é uma medida excepcional, prevista no ordenamento jurídico brasileiro, que permite atingir o patrimônio dos sócios ou administradores quando a pessoa jurídica é utilizada de forma abusiva, com desvio de finalidade ou confusão patrimonial.
Essa figura jurídica está prevista no art. 50 do Código Civil, com redação dada pela Lei nº 13.874/2019 (Lei da Liberdade Econômica):
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso.
Com a entrada em vigor da Lei da Liberdade Econômica, a desconsideração da personalidade jurídica passou a exigir critérios mais objetivos e fundamentação clara, coibindo o uso indiscriminado desse instituto. O legislador buscou preservar o ambiente de negócios, dando maior segurança jurídica aos empreendedores, ao mesmo tempo em que manteve a possibilidade de punir eventuais abusos.
Além do Código Civil, a desconsideração está prevista em leis especiais, como o Código de Defesa do Consumidor (art. 28) e a Lei de Execuções Fiscais (art. 4º da Lei nº 6.830/1980), aplicando-se de forma subsidiária ou complementar conforme o caso.
Para que a desconsideração seja aplicada, é preciso comprovar um dos seguintes requisitos:
Além disso, é necessário comprovar o benefício direto ou indireto do sócio ou administrador com o ato abusivo, conforme exigido pela redação atual do art. 50 do Código Civil.
Os tribunais têm adotado postura cautelosa na aplicação da desconsideração. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem reiterado que a simples inadimplência da empresa não justifica, por si só, a responsabilização dos sócios.
No julgamento do REsp 1.775.269/SP, o STJ reafirmou que:
“A desconsideração da personalidade jurídica exige demonstração inequívoca de abuso de direito, desvio de finalidade ou confusão patrimonial, sendo insuficiente a mera inexistência de bens em nome da empresa.”
Isso demonstra a importância de fundamentar adequadamente o pedido de desconsideração, sob pena de indeferimento.
O Código de Processo Civil de 2015 trouxe regras claras sobre o procedimento para a desconsideração da personalidade jurídica, nos artigos 133 a 137, que estabelecem:
Essas normas visam proteger o devido processo legal, evitando decisões arbitrárias.
Para evitar que o patrimônio pessoal seja atingido, os sócios devem:
Em caso de dúvidas, consultar um advogado especializado é sempre a melhor decisão para prevenir riscos jurídicos.
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A desconsideração da personalidade jurídica é um instrumento necessário para coibir fraudes, mas deve ser aplicada com responsabilidade e dentro dos limites legais. O sócio só será responsabilizado quando houver provas concretas de abuso e violação da separação patrimonial, não bastando o simples inadimplemento empresarial.
Entender esse instituto é fundamental para quem empreende ou atua na gestão de empresas. Em um cenário de crescente judicialização, estar bem assessorado juridicamente pode ser o diferencial entre proteger ou comprometer o patrimônio pessoal.
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